Review: Can You Hear Me?

14:00 luvdoctorwho 0 Comments


Qual o seu maior medo? 

No episódio dessa semana Doctor Who nos levou para mais perto dos companions pela primeira vez, e não errou viu? 

A primeira temporada foi cheia de críticas e erros, e eu prometi que se a 12ª temporada fosse melhor, iria fingir que a 11ª nem existiu, dando para 13th o que ela merece: uma primeira temporada descente. E não tem problema porque todos nós fizemos isso com o Capaldi, quem não se lembra da 8ª temporada, que foi só um surto coletivo?

Um dos grandes problemas da era da 13th persiste na 12ª temporada, e é aquilo, a falta de profundidade nos companions. Graham, Ryan e Yas, durante toda a primeira e boa parte da segunda temporada da era da 13th ainda são quase que completamente desconhecidos do público em vários aspectos. O que vem se tornando um grande problema, já que ninguém consegue realmente criar vínculo com eles, e tornando boa parte das grandes cenas da Doutora, protagonizadas pela vasta gama de personagens convidados, que são muitos, sempre, muita gente o tempo todo. 

Bom, vamos de Can you hear me. O episódio dessa semana nos levou a Alepo e uma das coisas que vem me deixando de coração quentinho assistindo essa temporada é a grande representatividade que estamos vendo na tela. Apesar da Doutora ser uma alienígena de outro planeta, com uma máquina do tempo que viaja no tempo e espaço, ela passa a maior parte do seu tempo entre a Inglaterra e estados Unidos né? ou pelo menos foi assim até agora. O Chibnall mais do que qualquer outro showrunner de Doctor Who vem mostrando o que a gente realmente quer ver, a Doutora viajando pelo espaço, mas também por todas as partes do planeta terra, que acreditem se quiser, não é composto apenas por dois lugares. No episódio da semana passada nós pudemos nos ver em Doctor Who, nos ouvir em Doctor Who e aquela sensação de estar representado ali no que você ama é mais que emocionante é necessária. E esse foi só um exemplo pra você que ainda não entendeu o que significa representatividade. Eu existo, eu to aqui e eu mereço fazer parte. 

Esse episódio foi sensível em vários aspectos, tratando de forma natural um dos problemas mais comuns nos dias atuais, a depressão, a necessidade de pertencer a algum lugar ou alguma coisa e sobre a importância de dominar os nossos medos. Eu senti o momento que o Ryan falou para o amigo dele que o que ele estava passando não era normal, que se sentir daquele jeito não era normal e que ele precisava falar com alguém. Eu senti também o quanto ele sentiu por não estar ali para as pessoas que precisam dele durante boa parte do tempo. Hoje em dia é comum se trancar em casa e assistir série o tempo todo se sentindo mal e não sair de casa. Existe todo o tabu envolvendo homem demonstrar emoção, porquê homem não chora, e ter uma série como Doctor Who te falando que não tem problema pedir ajuda, não vai te fazer menos homem chorar, é importante. A gente conseguiu ver também quanto os acontecimentos de Orphan 55 marcaram o Ryan. O pesadelo dele foi não estar ali com as pessoas que ele amava quando os seres humanos forem extintos e transformados naqueles monstros horríveis. Ele se questionou no final também sobre até quando eles fariam isso. Até quando eles podem continuar viajando com a Doutora e crescendo, vivenciando coisas diferentes, enquanto as outras pessoas estão aqui, bem parecido com o que aconteceu com os Ponds quando eles resolveram que era hora de sossegar e parar de viajar com o 11th no começo da 7ª temporada de Doctor Who. 

O que eu senti com o pesadelo da Yas, que ocupou boa parte do desenvolvimento desse episódio, foi uma grande insegurança e um medo terrível de não ser o suficiente. Grande o suficiente para desistir, largar tudo e fugir, o que no fundo ela continua fazendo quando viaja com a Doutora. Mais uma vez, a mensagem passada foi importante. Todo mundo se sente assim, eu me sinto assim, todos temos momentos em que está tudo errado, em que parece que todo o peso do universo está nas nossas costas e que não vamos aguentar. E o que a gente faz? largamos tudo e vamos embora? Não, a gente continua. A Yas naquele momento foi pintada como uma jovem adolescente que sofria na escola, e quem não sofreu? Quem não achou que a vida ia acabar ali? Quando somos adolescentes e estamos acordando pra vida e descobrindo quem, o que e como vamos ser, tudo parece insuportável, nosso limite, o tanto que parece que a gente consegue aguentar é sempre o mínimo possível. E mais uma vez, para uma série onde a maior parte da audiência é jovem, essa mensagem foi importante. Agora parece que é demais, agora parece que eu não vou aguentar, mas isso é um momento, as coisas sempre melhoram.

Talvez o medo do Graham não tenha sido grande surpresa para ninguém, é uma coisa que já vem sendo recorrente desde a temporada passada. O que foi surpresa para todos, foi a reação da Doutora ao desabafo dele. Como assim, você é socialmente estranha e não vai falar absolutamente nada quando alguém te fala que o maior medo da vida é morrer de uma doença tão difícil quanto essa? Não existe pessoa ou alienígena que não teria alguma reação ou qualquer senso de empatia ali. PARE DE TENTAR PINTAR A 13TH COMO UMA MULHER SEM CORAÇÃO, PORQUÊ ELA TEM DOIS. Essa cena foi feita para parecer engraçada, olha eu sou uma senhora do tempo, não sei como reagir e demonstrar afeto, NÃO, NÃO E NÃO. Não existe uma versão da Doutora que teria feito isso, eu não consigo imaginar o 10th Doctor fazendo isso e ele quase não se importava com as companions dele. O tema da temporada passada de Doctor Who foi FAMÍLIA, vocês entendem como essa reação da 13th vai contra literalmente tudo o que tentaram passar? Em que mundo alguém da sua família vai se abrir assim pra você e você vai reagir daquele jeito? Fazendo piada? Foi um furo terrível no roteiro. A 13th não é assim. Realmente não da pra entender, como num episódio com mensagens tão fortes de empatia a personagem principal seja a que faria uma coisa dessas. 

Por último mais não menos importante, o pesadelo da Doutora. Nós pudemos ver rapidamente que o pesadelo dela está por trás do segredo da Timeless Child e do motivo que levou o Master a destruir Gallifrey. Seria aquela criança a Ruth? Todas as vezes que isso é citado eu vejo a Doutora a ponto de surtar. Eu to desesperada pelos últimos episódios. 

Os vilões do episódio também foram um show a parte. A apresentação da história deles de forma animada foi legal de ver. Dois deuses que se alimentam do medo e da dor das pessoas. Parece um montão de gente que eu conheço. Apesar que confesso não ter entendido uma coisa, se ele usava um dedo por vez, porque ele soltava todos de uma vez? Uma agonia danada na gente. Também não teve como lembrar de The girl in the fireplace, quando vimos aqueles dedos nas engrenagens né? 

Mais do que nunca os companions estão dando sinais de exaustão. O Ryan com toda essa vibe de pra 'mim deu'. A Yas com toda essa vibe Clara Oswald 'vou aprontar e morrer' e o Graham que depois dessa cagada da Doutora pra ele... sei não. Vamos concordar que se não fosse a falta de empatia da Doutora esse episódio teria sido nota 10. Sobre o ocorrido, a BBC disse o seguinte: O que eles tentaram passar foi na verdade que nem sempre as pessoas sabem o que dizer em momentos como esse. E eu concordo, nem sempre nós sabemos a coisa certa a se dizer, mas TODOS, e digo isso com propriedade, todos nós ofereceríamos um colo, um ombro, um apoio, JAMAIS uma piada. Ali, eles perderam a chance de finalizar o episódio de um jeito brilhante. Perderam a oportunidade de dar para a Doutora um grande momento, uma grande fala, perderam mais uma vez a oportunidade de colocar ela no papel principal que é dela e que eles insistem em não dar. A 13th perdeu de novo a chance de brilhar. Foram todas mensagens importantes, que precisavam ser ditas. Nunca é demais reafirmar que não estamos sozinhos, que a vida é difícil, mas vale a pena ser vivida e que sempre vai existir uma mão pra segurar. A finalização do episódio, fez a grande mensagem de empatia ficar perdida, mas nós vimos e nós sentimos.
Comentários
0 Comentários

0 comentários:

O seu comentário faz diferença!