O Despertar dos Kotturuh.
Birinji foi o primeiro planeta a ser julgado, porque até mesmo a morte
precisa começar em algum lugar.
Ninguém está falando que a Era da
Escuridão foi perfeita - mas o nosso universo era tão novo, que até mesmo os
Eternos eram jovens. Éramos todos imortais naquela época, impedindo acidentes
(como uma unha do dedão do pé infectado ou uma guerra de nêutrons.)
Foram os Kotturuh que apresentaram a
ideia de uma vida útil. E eles começaram em Birinji.
Eles apareceram um dia na praça da
cidade. Bom, costumava ser a praça da cidade, agora é mais como uma área verde
- um pequeno trecho tranquilo de um prado, onde as mariposas cristalinas
pairavam e os pássaros voavam. E um dia, como eu estava dizendo, os Kotturuh
chegaram lá.
Eles ficavam parados como estátuas - a
quietude deles chamava a atenção das pessoas. Os habitantes de Birinji pensavam
que tinham dominado essa tamanha contemplação, mas não sabiam nada sobre os
recém-chegados que pareciam atrair a luz do ar. Eles estavam lá enquanto os
aldeões vagavam até os pilares de sal ao amanhecer e eles ainda estavam lá
quando eles voltavam para casa ao pôr do sol. Três figuras envoltas em mantos
que cintilavam e dançavam enquanto faziam seus cálculos - era a única coisa nos
Kotturuh que se mexia. Seus tentáculos cintilantes, pendurados como se
sentissem o gosto do ar, seus rostos envoltos em bandagens costurados em ouro, com
palavras de uma época anterior a essa. Eles estavam esperando.
O céu azul em torno deles ficou escuro
e o ar ficou pesado com uma névoa sinistra.
Eventualmente, Marjoral (o pai, do pai,
do pai da mãe dela, já foi antes o prefeito do vilarejo, quando ainda era uma
cidade) se aproximou. Ela era educada e sorridente e estava se perguntando se
ele precisava de sal. Ou água. As pessoas de Birinji eram calmas e sábias e
pareceu educado perguntar sobre suas necessidades básicas.
Ela repetiu a pergunta várias vezes até
uma das figuras reconhecer sua existência. Ele virou para ela, a grama
balançando na névoa densa.
"Ah", disse o Kotturuh, e sua
voz soou como um sino a distância. "Me perdoe pequenina, eu estava
pensando nos insetos. No gosto deles."
"As mariposas cristalinas?"
disse ela franzindo a testa. "Você quer comer elas?" Ninguém nunca
tentou isso, mas eles eram estranhos, e ela havia ouvido que estranhos poderiam
ser... estranhos.
"Não," o Kotturuh finalmente
moveu os tentáculos, aproximando-se, as figuras se mexendo e dançando em sua
capa. "Nós estávamos provando o futuro deles."
"Oh," disse a melhor líder
que Birinji tinha pra oferecer. Ela foi criada para ser educada. "E qual o
gosto deles?"
O Kotturuh virou para seu colega. Eles
se curvaram um para o outro, rápido como montanhas. Depois se viraram para a
Majoral. "Uma boa pergunta."
"E?"
"Eles têm potencial,"
anunciou o Kotturuh. "Talvez em alguns bilhões de anos. Devido ao clima,
devido a mudanças na órbita causada pela perda eminente da sua lua na guerra, e
o seu segundo sol se tornando uma super nova, então sim, as mariposas
cristalinas poderão florescer."
"Desculpa, o que? Nosso sol?
Os Kotturuh haviam começado a falar e
iam falar até o final. "Existe a mesma chance desse mundo se tornar um
deserto ou uma floresta verdejante - de qualquer jeito, as mariposas
cristalinas irão sobreviver."
"E a gente?"
"Ah," disse o Kotturuh,
depois de uma longa pausa.
"Ah?"
O Kotturuh balançou seus tentáculos ao
vento, e o que quer que estivesse por trás de sua máscara parecia estar sugando
o ar. “Avaliamos sua espécie.”
"Entendo," Marjoral começou a
se perguntar se eles precisariam perseguir essas pessoas com armas como fizeram
com os ladrões de sal no último amanhecer das sombras. As pessoas de Birinji
eram pacíficas, sábias e quietas e achavam todo tipo de conflito cansativo.
"Por quê?"
"Somos os Kotturuh," o
alienígena admitiu. "É o que fazemos."
Ele continuou explicando que essa era
sua grande tarefa. Os Kotturuh acreditam que eles sempre fizeram isso - Pelo
universo, antes desse e por todos os universos que virão depois. Era o seu
dever trazer o presente da morte para todas as vidas. Sua missão era visitar
todos os mundos e avaliar todas as espécies - provando sua linha do tempo e
avaliando o valor que eles ofereceriam para a eternidade.
"Para nós o universo é uma
música," concluiu o Kotturuh, "desejamos fazer com que seja bonita e
harmoniosa."
"Certo" disse Marjoral, não
mais prudente, mas de alguma forma confiante. "E Você veio aqui para nos
falar que estamos fazendo algo errado?"
"Sua sabedoria não é
exagerada," o Kotturruh soou quase triste. "Uma orquestra não
funciona se todos os instrumentos estiverem tocando todo o tempo. Alguns
contribuem tocando apenas uma simples nota. Alguns contribuem sem precisar
serem ouvidos."
"Onde você quer chegar com
isso?" novamente, Marjoral pensou no lugar onde guardavam as armas. Essas
criaturas não tinham vindo roubar o sal. Eles eram quase que poeticamente
aterrorizantes.
Os três Kotturruh se levantaram, seus
tentáculos e suas garras se espalharam no ar: "Estivemos avaliando vocês
por todo o planeta," disse o lider. "Vocês já foram promissores -
vocês costumavam construir cidades e viajar para longe e manter a paz com os
impérios. Mas agora..."
"Não fazemos muito mais
disso," disse Majoral. "Agora contemplamos a simplicidade em nós
mesmos."
"Certamente". Disse o
Kulturru. "É uma pena. Vocês tinham uma chance - existia uma espécie com
quem vocês poderiam fazer trocas, mas vocês se recusaram. Negaram suplementos,
eles se tornaram guerreiros. Em alguns séculos, serão eles que destruirão sua
lua - e em uma represália o seu sol será acidentalmente atacado. Tudo isso
poderia ter sido evitado."
"Mas..." disse Marjoral.
"Nós não tínhamos ideia! E ainda não aconteceu! Me parece...me parece que
você está dizendo que somos culpados de algo de que não sabíamos."
"Certamente," os Kotturruh se
curvaram, um processo lento e metódico. "Vocês tinham algo a oferecer para
a Grande Música, mas não mais. Assim, a eternidade está sendo desperdiçada em
vocês. Mas as Mariposas Cristalinas - acreditamos que eles vão aproveitar o
máximo do que sobrar. Eles vão voar alto."
Marjoral estava gritando com eles,
tentando entender o que eles estavam falando. Ela também estava mandando a mães
da tribo pegarem as armas afinal. Até agora esses estranhos visitantes tinham
oferecido apenas palavras, mas armas nunca tinham machucado.
O líder dos Kottturuh levantou sua mão:
"Não se preocupe pequenina," ele disse em um tom surpreendentemente
gentil. "Não viemos lhe fazer mal."
"Não?"
"Estamos apenas ajustando a vida
útil da sua espécie de acordo com o que você tem a oferecer."
"O que é vida útil?"
"Atualmente todos vocês vão viver
e se proliferar para sempre. A vida útil restringe isso. Vocês agora vão ocupar
do universo apenas o quanto vocês merecem. Outros vão fazer um melhor uso do
espaço."
"As mariposas cristalinas?
Sério?" Marjoral riu, especialmente quando uma passou voando perto dela.
"Sim," as bandagens no rosto
dos Kotturuh pareciam sorrir, "Estou feliz que você concorda." Às
três criaturas se curvaram uma para a outra, e então se viraram para ir embora.
"Espere!" Marjoral os chamou,
se perguntando onde as mães da tribo estavam com as armas. "Vocês estão
indo embora? É isso?"
Os Kotturuh se viraram para ela.
"Sim, julgamos vocês, e demos o seu presente. Agora vocês podem começar a
gritar."
"Me desculpe?" disse
Marjoral. "Eu ainda me sinto do mesmo jeito." Ela olhou para as
pessoas. Todas olhando do mesmo jeito. Essas criaturas vieram apenas para
palestrar para eles? Ou existia mais alguma coisa?
"Sua nova vida útil será de três
meses," disse o Kotturuh "Três voltas na Lua." Uma pausa.
"É uma lua bonita. Que pena."
"O que você quer dizer com três
meses?" Marjoral sentiu algo em sua garganta, algo maior que medo. Ela
podia ver o pânico se espalhar entre as pessoas. Pânico e algo mais.
"Toda a sua espécie vai viver por
três meses exatamente." Um tempo de vida inofensivo. A menos que alcance
você."
"Mas...Mas..." Marjoral
chorou e então não tinha mais palavras.
Quando os Kotturuh voltaram para junto
de seus camaradas, não havia sobrado muito, apenas uma pilha de poeira. Poeira
e Mariposas Cristalinas zumbindo.
A distância, os gritos se espalharam e
ecoaram pelo planeta. Tudo tinha corrido bem. Teriam conflitos e conversas
sobre os Kotturuh antes do planeta cair no silêncio - mas eles tinham que
começar por algum lugar.
Os Kotturuh seguiram seu caminho.
"Esse foi o primeiro
planeta," eles disseram. "Mas temos muito mais para visitar."
E então eles começaram.
Tradução: LUV DOCTOR WHO.
Primeiramente, muito obrigado pela tradução do conto, ficou ótimo.
ResponderExcluirEstou adorando TLV e espero ver os Kotturuh na série