O Despertar dos Kotturuh.

12:47 luvdoctorwho 1 Comments

Birinji foi o primeiro planeta a ser julgado, porque até mesmo a morte precisa começar em algum lugar.

Ninguém está falando que a Era da Escuridão foi perfeita - mas o nosso universo era tão novo, que até mesmo os Eternos eram jovens. Éramos todos imortais naquela época, impedindo acidentes (como uma unha do dedão do pé infectado ou uma guerra de nêutrons.)

Foram os Kotturuh que apresentaram a ideia de uma vida útil. E eles começaram em Birinji.

Eles apareceram um dia na praça da cidade. Bom, costumava ser a praça da cidade, agora é mais como uma área verde - um pequeno trecho tranquilo de um prado, onde as mariposas cristalinas pairavam e os pássaros voavam. E um dia, como eu estava dizendo, os Kotturuh chegaram lá.

Eles ficavam parados como estátuas - a quietude deles chamava a atenção das pessoas. Os habitantes de Birinji pensavam que tinham dominado essa tamanha contemplação, mas não sabiam nada sobre os recém-chegados que pareciam atrair a luz do ar. Eles estavam lá enquanto os aldeões vagavam até os pilares de sal ao amanhecer e eles ainda estavam lá quando eles voltavam para casa ao pôr do sol. Três figuras envoltas em mantos que cintilavam e dançavam enquanto faziam seus cálculos - era a única coisa nos Kotturuh que se mexia. Seus tentáculos cintilantes, pendurados como se sentissem o gosto do ar, seus rostos envoltos em bandagens costurados em ouro, com palavras de uma época anterior a essa. Eles estavam esperando.

O céu azul em torno deles ficou escuro e o ar ficou pesado com uma névoa sinistra.

Eventualmente, Marjoral (o pai, do pai, do pai da mãe dela, já foi antes o prefeito do vilarejo, quando ainda era uma cidade) se aproximou. Ela era educada e sorridente e estava se perguntando se ele precisava de sal. Ou água. As pessoas de Birinji eram calmas e sábias e pareceu educado perguntar sobre suas necessidades básicas.

Ela repetiu a pergunta várias vezes até uma das figuras reconhecer sua existência. Ele virou para ela, a grama balançando na névoa densa.

"Ah", disse o Kotturuh, e sua voz soou como um sino a distância. "Me perdoe pequenina, eu estava pensando nos insetos. No gosto deles."

"As mariposas cristalinas?" disse ela franzindo a testa. "Você quer comer elas?" Ninguém nunca tentou isso, mas eles eram estranhos, e ela havia ouvido que estranhos poderiam ser... estranhos.

"Não," o Kotturuh finalmente moveu os tentáculos, aproximando-se, as figuras se mexendo e dançando em sua capa. "Nós estávamos provando o futuro deles."

"Oh," disse a melhor líder que Birinji tinha pra oferecer. Ela foi criada para ser educada. "E qual o gosto deles?"

O Kotturuh virou para seu colega. Eles se curvaram um para o outro, rápido como montanhas. Depois se viraram para a Majoral. "Uma boa pergunta."

"E?"

"Eles têm potencial," anunciou o Kotturuh. "Talvez em alguns bilhões de anos. Devido ao clima, devido a mudanças na órbita causada pela perda eminente da sua lua na guerra, e o seu segundo sol se tornando uma super nova, então sim, as mariposas cristalinas poderão florescer."

"Desculpa, o que? Nosso sol?

Os Kotturuh haviam começado a falar e iam falar até o final. "Existe a mesma chance desse mundo se tornar um deserto ou uma floresta verdejante - de qualquer jeito, as mariposas cristalinas irão sobreviver."

"E a gente?"

"Ah," disse o Kotturuh, depois de uma longa pausa.

"Ah?"

O Kotturuh balançou seus tentáculos ao vento, e o que quer que estivesse por trás de sua máscara parecia estar sugando o ar. “Avaliamos sua espécie.”

"Entendo," Marjoral começou a se perguntar se eles precisariam perseguir essas pessoas com armas como fizeram com os ladrões de sal no último amanhecer das sombras. As pessoas de Birinji eram pacíficas, sábias e quietas e achavam todo tipo de conflito cansativo. "Por quê?"

"Somos os Kotturuh," o alienígena admitiu. "É o que fazemos."

Ele continuou explicando que essa era sua grande tarefa. Os Kotturuh acreditam que eles sempre fizeram isso - Pelo universo, antes desse e por todos os universos que virão depois. Era o seu dever trazer o presente da morte para todas as vidas. Sua missão era visitar todos os mundos e avaliar todas as espécies - provando sua linha do tempo e avaliando o valor que eles ofereceriam para a eternidade.

"Para nós o universo é uma música," concluiu o Kotturuh, "desejamos fazer com que seja bonita e harmoniosa."

"Certo" disse Marjoral, não mais prudente, mas de alguma forma confiante. "E Você veio aqui para nos falar que estamos fazendo algo errado?"

"Sua sabedoria não é exagerada," o Kotturruh soou quase triste. "Uma orquestra não funciona se todos os instrumentos estiverem tocando todo o tempo. Alguns contribuem tocando apenas uma simples nota. Alguns contribuem sem precisar serem ouvidos."

"Onde você quer chegar com isso?" novamente, Marjoral pensou no lugar onde guardavam as armas. Essas criaturas não tinham vindo roubar o sal. Eles eram quase que poeticamente aterrorizantes.

Os três Kotturruh se levantaram, seus tentáculos e suas garras se espalharam no ar: "Estivemos avaliando vocês por todo o planeta," disse o lider. "Vocês já foram promissores - vocês costumavam construir cidades e viajar para longe e manter a paz com os impérios. Mas agora..."

"Não fazemos muito mais disso," disse Majoral. "Agora contemplamos a simplicidade em nós mesmos."

"Certamente". Disse o Kulturru. "É uma pena. Vocês tinham uma chance - existia uma espécie com quem vocês poderiam fazer trocas, mas vocês se recusaram. Negaram suplementos, eles se tornaram guerreiros. Em alguns séculos, serão eles que destruirão sua lua - e em uma represália o seu sol será acidentalmente atacado. Tudo isso poderia ter sido evitado."

"Mas..." disse Marjoral. "Nós não tínhamos ideia! E ainda não aconteceu! Me parece...me parece que você está dizendo que somos culpados de algo de que não sabíamos."

"Certamente," os Kotturruh se curvaram, um processo lento e metódico. "Vocês tinham algo a oferecer para a Grande Música, mas não mais. Assim, a eternidade está sendo desperdiçada em vocês. Mas as Mariposas Cristalinas - acreditamos que eles vão aproveitar o máximo do que sobrar. Eles vão voar alto."

Marjoral estava gritando com eles, tentando entender o que eles estavam falando. Ela também estava mandando a mães da tribo pegarem as armas afinal. Até agora esses estranhos visitantes tinham oferecido apenas palavras, mas armas nunca tinham machucado.

O líder dos Kottturuh levantou sua mão: "Não se preocupe pequenina," ele disse em um tom surpreendentemente gentil. "Não viemos lhe fazer mal."

"Não?"

"Estamos apenas ajustando a vida útil da sua espécie de acordo com o que você tem a oferecer."

"O que é vida útil?"

"Atualmente todos vocês vão viver e se proliferar para sempre. A vida útil restringe isso. Vocês agora vão ocupar do universo apenas o quanto vocês merecem. Outros vão fazer um melhor uso do espaço."

"As mariposas cristalinas? Sério?" Marjoral riu, especialmente quando uma passou voando perto dela.

"Sim," as bandagens no rosto dos Kotturuh pareciam sorrir, "Estou feliz que você concorda." Às três criaturas se curvaram uma para a outra, e então se viraram para ir embora.

"Espere!" Marjoral os chamou, se perguntando onde as mães da tribo estavam com as armas. "Vocês estão indo embora? É isso?"

Os Kotturuh se viraram para ela. "Sim, julgamos vocês, e demos o seu presente. Agora vocês podem começar a gritar."

"Me desculpe?" disse Marjoral. "Eu ainda me sinto do mesmo jeito." Ela olhou para as pessoas. Todas olhando do mesmo jeito. Essas criaturas vieram apenas para palestrar para eles? Ou existia mais alguma coisa?

"Sua nova vida útil será de três meses," disse o Kotturuh "Três voltas na Lua." Uma pausa. "É uma lua bonita. Que pena."

"O que você quer dizer com três meses?" Marjoral sentiu algo em sua garganta, algo maior que medo. Ela podia ver o pânico se espalhar entre as pessoas. Pânico e algo mais.

"Toda a sua espécie vai viver por três meses exatamente." Um tempo de vida inofensivo. A menos que alcance você."

"Mas...Mas..." Marjoral chorou e então não tinha mais palavras.

Quando os Kotturuh voltaram para junto de seus camaradas, não havia sobrado muito, apenas uma pilha de poeira. Poeira e Mariposas Cristalinas zumbindo.

A distância, os gritos se espalharam e ecoaram pelo planeta. Tudo tinha corrido bem. Teriam conflitos e conversas sobre os Kotturuh antes do planeta cair no silêncio - mas eles tinham que começar por algum lugar.

Os Kotturuh seguiram seu caminho.

"Esse foi o primeiro planeta," eles disseram. "Mas temos muito mais para visitar."

E então eles começaram.

Tradução: LUV DOCTOR WHO.

Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Henrique Barbosa Ponciano Santos26 de setembro de 2020 às 05:17

    Primeiramente, muito obrigado pela tradução do conto, ficou ótimo.
    Estou adorando TLV e espero ver os Kotturuh na série

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