Confira a primeira parte da entrevista completa do Christopher Eccleston para a Doctor Who Magazine;

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Imagem: Reprodução Doctor Who Magazine

Chris Eccleston: "É uma felicidade poder fazer isso."

Christopher Eccleston finalmente voltou para Doctor Who. Em sua primeira entrevista para a Doctor Who Magazine desde 2014, ele contou para Graham Kibble-White sobre as armadilhas e triunfos que o papel do Doutor trás.

Como bem sabemos, Chris está retornando para o Universo de Doctor Who para uma série de áudios com a Big Finish. Como apontou o entrevistador, o Chris preferiu que toda a entrevista fosse focada nessa nova empreitada. Quando perguntado em determinado momento, se ele teria algum interesse em mesclar partes da Era de seu Doutor nos seus novos áudios, ele disse: "Eu não quero revisitar tudo aquilo. Aqueles 13 episódios existem, para o bem ou para o mal."

A entrevista foi gravada por telefone durante uma pausa nas gravações da Big Finish, para onde ele tem ido nas últimas semanas gravar os áudios, em sua maior parte sozinho com o Wilfredo Acosta nos estúdios, devido às restrições da COVID.

"Um dos desafios para todos nós ao gravar em lockdown, é que nós (atores) não nos encontramos," ele disse. "Não existe socializar do lado de fora na área verde na hora do lanche, o que poderia criar um relacionamento diferente quando você tem a chance de relaxar um com o outro. Infelizmente, não temos isso. Temos que criar isso na hora."

"As pessoas estão gravando debaixo das escadas, no armário de vassouras. E eu estou no estúdio. Mas tentamos tornar isso algo positivo. Eu tenho um ótimo relacionamento no trabalho com Wilfredo, por exemplo. Quero dizer, o vínculo que temos é forte, porque é tudo o que temos. Nós fazemos companhia um ao outro e nos mantemos entretidos. Eu o deixo maluco, porque eu sou meio que um ator 'físico'. E toda hora ele precisa ajustar meu microfone e me falar pra ficar parado. Mas fora isso é meio solitário. E eu não vejo a hora de todos nós podermos estar juntos."

Tendo sempre usado a palavra "solitário" como um elemento para descrever o 9º Doutor, é impossível não se perguntar se essa experiência está fazendo com que ele veja as coisas diferente. Ele deu risada: "Eu estava dizendo para o Wilfredo hoje, 'Normalmente todos esses atores estariam juntos aqui.' ele disse, 'Sim,' e ele disse isso com um sorriso triste."

Apesar disso, as histórias em que ele vem trabalhando se mantém "até agora, longe dos elementos obscuros do 9º Doutor". E provavelmente, essa é a melhor escolha. "Todo mundo já se sente obscuro o suficiente nessa pandemia. Eu realente estou gostando desse tom mais leve que o Doutor está trazendo."

"Eu acho que, provavelmente, eu sou mais conhecido pela parte mais pesada - Meu Doutor carrega a culpa de ser o sobrevivente. Isso foi essencial para a primeira temporada, e foi por isso que eles precisaram de mim, porque eu poderia trazer um pouco disso... todos os atores antes de mim também poderiam mostrar isso, mas é que Doctor Who foi calmo por tanto tempo, o que precisavam (quando voltou para a TV) era um pouco mais de peso e credibilidade, de certo modo. Isso foi eficaz."

Imagem: Reprodução Doctor Who Magazine

"No momento, o Doutor está livre daquela angustia, ele está entusiasmado, em busca das coisas, engraçado e amável. Mas quem sabe se mais frente nós vamos cruzar essa linha e dar um tom mais obscuro? É uma possibilidade."

Em sua autobiografia, "I Love The Bones of You" nós vimos um pouco de como ele se sentia sobre Doctor Who, em dois capítulos onde ele assistia "Rose" e "Daleks" com seus filhos. "O Doutor fica animado em suas aventuras e fica mais estimulado do que com medo," ele diz. "Ele quer descobrir o que são esses aliens e de onde ele vem."

Embora ele tenha ficado meio a parte do universo de Doctor Who, pelo menos até 2018, quando ele fez sua primeira aparição em uma convenção de fãs - é óbvio que ele sempre foi apaixonado pelo papel. "Eu sempre acreditei que as pessoas que assistiam a série, sabiam quem eu sou, e o que significava pra mim, e o que eu dei de mim para a série." ele disse.

Sobre retornar para o papel basicamente todos os dias agora, ele disse: É legal interpretar um herói. É legal interpretar alguém que tem todas as respostas. É legal interpretar um entusiasta. E é legal interpretar alguém que está sempre a frente e é confiante. E é amável! É um presente poder interpretá-lo, como todos ator/atriz que já esteve nesse papel vai te dizer. Esse é um herói que não se leva tão a sério, e que é preenchido com amor. É uma coisa maravilhosa de se fazer."

"Ele é bem direto, não é? O Doutor? Ele não cai em manipulações. Ele sabe exatamente o que dizer e diz na lata. E eu acho que os seres humanos mais inteligentes - ou macacos como ele gosta de chamá-los - sempre respondem bem a isso, particularmente as mulheres. O Doutor tem uma inclinação para o lado feminino, não tem? E isso é ilustrado com suas companheiras pelos anos - a inteligência emocional delas. Ele é doido por inteligência emocional, e por perdão e a humanidade é uma coisa humana. E eu acho que isso é muito bem demonstrado nos relacionamentos e nas maravilhosas aventuras que estamos gravando no momento."

Foi em uma convenção em Los Angeles que o diretor da Big Finish, Jason Haigh-Ellery, convenceu o Chris a voltar. "Me pediram algumas vezes, mas não era a hora certa, por causa de várias coisas que estavam acontecendo na minha vida pessoal. E aí a hora certa chegou. Nós falamos sobre isso na convenção, e então eles entraram em contato com a Sara Elman, que é minha agente. Eu dei uma olhada nos roteiros, e fiquei bastante encorajado pela qualidade deles. E aqui estamos nós."

Imagem: Reprodução Doctor Who Magazine

E o que fez agora ser a hora certa? "O que convence um pedreiro a construir uma parede? O que convence um encanador a desentupir um cano? O que te convence a fazer o seu trabalho? Em primeiro lugar, não é a coisa mais legal de se dizer - e porque somos ingleses, não falamos sobre essas coisas - mas sou um ator, e eu pago meu aluguel e sustento meus filhos atuando. Então é um trabalho pago. E segundo, como eu sempre disse, eu tenho um grande carinho pelo personagem. Eu sempre disse isso."

Para todos os atores que interpretam o Doutor, existe essa pergunta no ar "Você vai gravar algum áudio da Big Finish?" Como isso chegou pra você?

"Bom, eu realmente não escuto as fofocas nem nada. Não sou muito fã dessas coisas. Mas eu faço bastante coisa para o rádio, eu faço AudioBooks, e eu tenho bastante satisfação criativa fazendo isso. E com isso, eu achei que poderia fazer algo com um personagem que eu interpretei em um formato mais visual. Eu achei que era algo que poderia ser explorado tecnicamente, em uma forma mais vocal."

No momento a abordagem para os áudios é a que mais combina com o Doutor. "Ele está eternamente no momento. Viajem no tempo é... o ponto importante. E em uma das histórias que estamos gravando no momento, o Brigadeiro, está dizendo para ele 'Você se lembra, você veio para minha festa de aposentadoria, e aí nós acabamos em Gallifrey?" (Em referência a The Five Doctor's, de 1983).  "E ele diz: 'Não, eu não me lembro.' ele está sempre seguindo em frente."

"Eu acho que isso alimenta esse elemento do Doutor, se essa é a palavra certa - Ele pode se tornar o Peter Capaldi, ele pode se tornar Jodie Whittaker. Ele pode ser o Jon Pertwee. Mas precisa ser instintivo e novo, particularmente quando você precisa fazer tantos episódios onde essencialmente o Doutor está fazendo a mesma coisa. Então você precisa encontrar a novidade no momento. E na sua abordagem."

Isso faz lembrar de quando o Tom Baker disse que o Doutor "não é para se atuar" porque o personagem nunca realmente se desenvolve.

"Sim." Ele disse. "Eu acho que o Tom Baker muito inteligente. Quando eu fui escalado como o Doutor, perguntaram pra ele, 'O que você acha do Chris Eccleston?' e ele disse, 'Quem é Chris Eccleston?' e essa foi a minha reação preferida na época. Eu acho que ele é o melhor. Ele é o melhor. E você vê isso nos episódios. Ele está eternamente no momento e eternamente novo."

Falando em como ele encontrou na Big Finish uma empresa que realmente foca nas palavras, ele contou: "O processo deles é impecável. A qualidade da escrita, e o jeito que eles fazem o drama, mesmo em lockdown - é novo, é honesto, é irreverente. É profissional."

"Escrever coisas como uma aventura de Doctor Who é um grande desafio, porque você precisa apresentar boa parte da ciência e da tecnologia. E você precisa fazer isso com leveza - Você precisa mover a narrativa com graça e elegância. Precisa ter referências da parte Canon. Introduzir novos personagens. E tem toda parte econômica. É mais fácil escrever para a televisão - muito, mais muito mais fácil."

Se tornou quase uma banalidade que ficção científica seja um cavalo de Tróia para a discussão de temas importantes, discussões que a maioria das pessoas não esperam ver na BBC One antes da Dança dos famosos. Será que o Chris assina embaixo? Ele disse: "Sim, claro, cavalos de Tróia... Jimmy McGovern, por exemplo, usou Cracker como um cavalo de Tróia, pra mostrar como ele se sentia sobre toda a injustiça de Hillsborough. Então, sim. Com certeza, Doctor Who, pra mim, é muito bom pra essas coisas, você pode introduzir esses temas e apresentá-los para as crianças e já plantar a sementinha cedo. É bastante útil. E claro, evitar as grandes palestras, que é o que os grandes escritores fazem. Se você quer passar uma mensagem, faça do jeito mais sutil, mais gentil. A mensagem em Doctor Who é sempre positiva. É sempre sobre abraçar todas as formas de vida. E não julgue. É maravilhoso. "

A segunda parte da entrevista sai na próxima edição da Doctor Who Magazine.    

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