O que muda na dinâmica da TARDIS com apenas uma companion?
Pra quem esteve preso em uma bolha no tempo e não soube das notícias, Tosin Cole (Ryan Sinclair) e Bradley Walsh (Graham O'brian) estão deixando o elenco regular de Doctor Who no especial de ano novo, exibido no dia 1 de janeiro de 2021, deixando bastante espaço na TARDIS para Yasmin Khan (Mandip Gill) que continuará como Companion da 13ª Doutora, durante a 13ª Temporada de Doctor Who que tem previsão de ir ao ar no final de 2021.
É claro que todos nós estamos nos perguntando, o que vai mudar nessa dinâmica? De onde virá essa química até então inexistente da Companion com a personagem principal?
E para isso, temos
que analisar os fatores que levaram essa geração de Companion em específico, ao fracasso.
Desde o início de sua Era,
Chris Chibnall deixou claro que o que ele queria passar para a audiência, era uma sensação
de família, tv no domingo à noite no sofá da sala. Então, porque não colocar uma
família inteira dentro da TARDIS? A ideia em si não parecia ruim. Mas então por
que não funcionou? A resposta é bem simples: Não serviu para a natureza da
série.
Os episódios de Doctor Who em
sua grande maioria, envolvem a TARDIS chegando em determinado lugar e a Doutora
encontrando personagens recorrentes (que vão aparecer somente naquele
episódio). Durante a 11ª e 12ª temporada, os produtores de Doctor Who optaram
por chamar muitos personagens recorrente. Por episódio, você precisava,
apresentar a Doutora - que até então era nova para nós, era toda uma nova
personalidade que precisava ser desenvolvida ali - apresentar três novos Companions
- que precisam de uma backstory, cada um deles precisava de uma origem -
apresentar como esses 3 novos personagens regulares se relacionariam com a
Doutora - Porque você está largando sua vida e viajando com uma alienígena? - e
também apresentar todos esses personagens recorrentes, que não precisavam necessariamente de
uma backstory, mas sabendo que a história a ser contada seria a deles e que isso afetaria o plot, precisariam de alguma apresentação. Novos personagens, novos mundos e aí, você coloca tudo
isso em 45 minutos, e obviamente alguma coisa seria deixada de lado.
Com tanto a se contar em tão
pouco tempo, o showrunner pecou no desenvolvimento de seus personagens
regulares. Ryan tem dispraxia, vocês lembram? Foi mencionado por duas vezes na
série. Graham venceu um câncer e nos últimos episódios da 12ª temporada,
descobrimos que a Yas tem problemas com depressão. Esse é o tanto que sabemos
da vida desses personagens que já acompanhamos a duas temporadas. Por duas
temporadas não criamos vínculo nenhum com os três. E é óbvio que isso se
espelha na atitude que a própria 13ª Doutora tem em relação aos personagens.
Não tem sentimento ali e isso é inédito em Doctor Who. Muito tentou se explicar
a falta de empatia da Doutora para seus novos companions. Alguns jogaram a
carta da regeneração. Quando o 12º Doutor regenerou, ele disse que não queria
fazer aquilo de novo. Ele não queria mais uma versão do Doutor. Então, a nova
Doutora veio com aquele sentimento de 'não querer estar aqui', e se ela não
quer estar aqui, porque criar vínculos com qualquer pessoa que seja? Esse
argumento falha, quando vemos a relação dela com os seus personagens
recorrentes, BE KIND foi o que ele disse, e foi assim que ela veio. Muito se
fala sobre a “falta de emoção” da 13ª Doutora e se dão mil argumentos do porque
ela é assim. “Ela estava frágil depois da regeneração.” “Foi porque ela perdeu
a TARDIS no começo, certeza.”.
A realidade é que nos acostumamos com Doutores e suas grandes reações. O 10th, o 11th são ótimos exemplos. E esquecemos que a Doutora pode ser mais contida, como foram os Doutores do Peter Davison e do Pertwee. E não podemos esquecer que a maioria desses comentários negativos, vem de pessoas que se acostumaram com um tipo de Doctor Who esee esqueceram de que ela poderia ser quem ela quisesse. Todos os problemas de relacionamento e dinâmica da era de Jodie Whittaker se dão pelos seus roteiros tão apertados quanto o metrô da Sé as 18h00. A Doutora precisa de tempo para criar vínculos, do mesmo jeito que nós precisamos. Com a saída de Tosin Cole e Bradley Walsh, todo o nosso foco será na Yas. A Doutora não vai ter mais ninguém pra conversar ali e finalmente seremos abençoados com uma série com o tempo certo. Se eu pudesse escolher, começaria do zero com a Doutora, daria pra ela uma Companion nova, pronta para ser desenvolvida. Mas não posso. O que eu posso fazer, é esperar que o espaço na TARDIS faça bem as duas e que no final a Yas seja abraçada, tanto pelo público quanto pela Doutora.