Você é fã de Doctor Who ou é fã de Steven Moffat?
Vamos começar com uma pergunta. Será que todo esse ódio ‘sobre a escrita’ de Chris Chibnall, não esconde o fato de você estar acostumado demais com os roteiros de Steven Moffat?
Vamos voltar um pouco no tempo?A história de Steven Moffat com a série vem antes de “The Eleventh Hour”, quando o mesmo assumiu o cargo de Showrunner tendo Matt Smith como o seu primeiro Doutor. Em 1996, Steven Moffat escrevia seu primeiro roteiro – não televisionado – para Doctor Who. “Erros de Continuidade” estabelecia um padrão de escrita nas histórias dele. Em 1999, ele apresentava na BBC One, “The Curse of Fatal Death” episódio especial, escrito para o Red Nose Day, que não é considerado canon por se tratar de uma paródia. Mas foi só em 2005 que ele realmente caiu nas graças do grande público.
E você com certeza deve estar pensando: “Mas quem trouxe Doctor Who de volta, não foi o Russel T Davies?”. Claro que foi, e esse artigo não tem a intenção de diminuir em nada o enorme e incrível trabalho do Russel e sim mostrar que mesmo na era dele, quando você achava que estava se acostumando com a escrita do Russel T Davies, você estava na verdade, caindo na Moffatização de Doctor Who.
Quando perguntam qual o seu episódio preferido da 1° temporada da New Who, qual episódio realmente vendeu a série, a grande maioria responderia “The Empty Child/ The Doctor’s Dance”, primeiro e segundo episódio de Steven Moffat para a New Who, sob o comando de Russel T Davies.
Quando perguntam qual o seu episódio preferido da 2ª temporada de Doctor Who, a maioria vai dizer “The Girl in the Fireplace”, também episódio de Steven Moffat, sob o comando de Russel T Davies.
E ainda hoje, quando se pergunta qual o melhor episódio de todos os
tempos? Qual você indicaria pra um amigo que quisesse começar as série? A maioria ainda vai responder “Blink”, episódio de Steven Moffat para a
3ª temporada de Doctor Who, sob o comando de Russel T Davies.
Porque ao assistir a
era do Russel T Davies, nos apegávamos aos episódios de Steven Moffat? O
que difere um do outro?
Todo o conceito de contar histórias do Moffat é baseado em quão bem ele escreve ficção científica. E é por isso que suas histórias parecem tão mais complicadas, tão mais interessantes, tão mais parecidas com um conto de fadas e tão grandiosas. A história da River Song é um ótimo exemplo. A timeline dela é ao contrário da do Doutor, então ela sabe mais e ele sabe menos. Ela já conhecia os pais dela antes de nascer, ela foi concebida na TARDIS e por isso ela é meio que Senhora do Tempo. Tudo muito ficção cientifica, tudo complicado e cheio de detalhe e histórias que começam em uma temporada e vão terminar só duas temporadas depois.
Diferente claro, do Russel T Davies, que em seus episódios focava mais
em como a história afetava as relações pessoais do Doutor com os seres humanos.
Quando vimos “Turn Left”, vimos o Showrunner mais interessado em mostrar como a
Inglaterra podia cair nas garras do fascismo, do que focar na personagem
principal e em universos paralelos. Em “Midnight” ele mostrou como as pessoas
podem facilmente se voltar umas contra as outras em uma situação de grande
estresse, e pouco se preocupou em mostrar ou resolver a ficção do que estava
acontecendo de errado naquele trem. Em “Love & Monster”, a história não era
focada no monstro, mas em mostrar como gostar da mesma coisa pode unir as
pessoas. Ele claramente se interessava mais nas relações pessoais do que em explicar
como a ficção cientifica em torno daquilo funcionava. Tudo isso na sutileza de
seus episódios.
Mas aí, enquanto você assistia
a era do Russel T Davies, o que acontecia, era que você estava se acostumando
com o jeito do Moffat escrever, porque querendo ou não, foram os episódios dele
que se destacaram. Porque querendo ou não, quando você assiste uma ficção
científica, apesar de todas elas estarem inundadas com mensagens de cunho
sociais, você vai guardar a parte grandiosa das grandes histórias complicadas e
cheia de viagem no tempo, você não vai guardar a mensagem. E isso não quer
dizer que o Moffat não saiba escrever sobre relações pessoais ou que o Russel
não saiba escrever ficção cientifica, eles simplesmente focam em contar a
história de maneiras diferentes.
E quando você realmente para
pra pensar, os episódios do Steven Moffat na era do Russel deram todo o tom da
era do Steven Moffat como Showrunner. Do mesmo jeito que os episódios do Chris
Chibnall na era do Moffat deram o tom da 11ª e 12ª Temporadas de Doctor Who.
Ao assistir os episódios do
Chris Chibnall na era do Moffat, “Dinosaurs on a Spaceship" e "The
Power of Three" você vê claramente o conceito e a direção pretendida. Também
é clara a semelhança com as histórias e o estilo do Russel T Davies, com aquela
coisa mais pé no chão, cenas extremamente urbanas e fácil de se relacionar, com
os personagens na TARDIS tendo família, vida social e trabalhos. Mas aí,
perdemos a Moffatização. Perdemos a grandiosidade da ficção cientifica cheia de
detalhes e fantasia, e o que sobrou foram só as relações pessoais, que quando
combinadas com a grandiosidade de Steven Moffat eram elogiadas, mas sem elas...
E partem daí as críticas. "A
11ª temporada foi um grande erro", dizem eles. Chris Chibnall errou na falta de arcos, no
tom das relações pessoais dos seus personagens principais e secundários, tirou
Doctor Who de Doctor Who e principalmente, errou no tom da primeira mulher a
interpretar o papel da Doutora.
A 8º temporada de Doctor Who, sob o comando de Steven Moffat sofreu dos mesmos problemas. O Moffat havia saído de uma temporada já não tão boa, de um episódio de regeneração que deixou a desejar no quesito roteiro e entrou em uma temporada onde ele não só continuou errando nos roteiros, mas também no tom dos personagens principais e secundários e principalmente, no tom do Doutor que viria a ser o mais popular da New Who.
Durante aquela temporada tudo o que se ouvia da boca de Steven Moffat é que ele iria arrumar o tom do 12º Doutor, "não era pra ter sido daquele jeito". O Capaldi não deu certo sendo um Doutor apático, 100% Rebel Time Lord. Mas ai a série que muda com o tempo, sem perder sua identidade, se encontrou novamente e ninguém mais lembrava que Steven Moffat havia errado.
Então, porquê os erros do Chibnall se tornaram imperdoáveis, ao ponto de as pessoas não aceitarem, que as coisas estão se encaixando e que ele finalmente está encontrando seu caminho e a identidade da sua protagonista? Porque as pessoas são fãs de Steven Moffat, estão acostumadas com os roteiros de Steven Moffat e quando assistem a um episódio que é bom, mas que não tem todo o “wibbly wobbly do espaço e tempo" não dão nem chance, falam que não funcionou, que não deu certo, que não era pra ser assim.
Steven Moffat é sim um grande escritor, mas para que ele, mesmo errando,
encontrasse seu caminho, ele levou tempo. Chris Chibnall definitivamente escreve
diferente de seus antecessores. Enquanto Steven Moffat abusava de maneira
brilhante da Ficção Cientifica, da fantasia e do conto de fadas, o atual
showrunner usa do puro realismo para nos trazer um Doctor Who que até então víamos
escondido nas entrelinhas de Russel T Davies. E se cabe a reflexão, no momento
atual, um pouco de realidade jogada na nossa cara é tão ruim assim?
Você está 100000% certo, excelente texto. O pessoal age como se TUDO o que o Moffat fez foi impecável e só ele sabe escrever Doctor Who. DW é uma série muito adaptável e que pode ser abordada de infinitas maneiras dependendo de quem está escrevendo. O tom "principal" da série mudou completamente com o Chibnall, e pra mim foi uma mudança muito bem vinda e refrescante, a 10º temporada foi ótima e fechou muito bem o que o Moffat tinha feito, mesmo vindo de anos não tão incríveis e tudo bem. Agora, "Rosa" e "Demônios de Punjab" são duas histórias incríveis que mostram o que de melhor essa fase tem a oferecer que o pessoal tá deixando passar por bobagem, e esse não é o momento de deixar histórias assim passarem batidas.
ResponderExcluirMoffat não bagunçou todo o cânone de Doctor Who e fez uma temporada com 100 perguntas pra no final não responder nenhuma e ter o pior final com a pior audiência de Doctor Who. Pra mim o artigo tá querendo passar mais pano pra esse Showrunner péssimo do que querer comparar ele com o o estilo do RTD e o Moffat
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